
Maybe the next year... But thank you to trying.
Vazio
Estava sentada. Nua. Quase nua. Não fosse pela blusa vermelha, ironicamente vestida para o natal, e pela calcinha verde. As longas pernas se cruzavam sobre a cadeira na varanda. Um cigarro de cereja queimava entre seus dedos e, na outra mão, um copo de vinho. De morango. Seu preferido.
celular e virou o pescoço até onde alcançava. Acompanhou-o com os olhos até ele se sentar na cadeira que estava ao seu lado. Esticou sua mão e entrelaçou seus dedos aos dela. Fogos e risadas ao longe. Vozes. Meia-noite. Ela inclinou-se sobre ele, que a olhava com um sorriso nos lábios. Deu-lhe um longo selinho estalado e, sem descolar os lábios, com a voz baixa e rouca desejou-lhe um Feliz Natal.
Encostada na parede, com uma das pernas dobradas e um de seus pés apoiados na mesma; ela estava lá. Esperando. Paciente. Olhando. Procurando. Com medo. Sede. As mãos tremiam e os dedos já não estralavam mais. Sete e cinqüenta e dois bateu no relógio e um frio subiu pela espinha. Abriu a bolsa e olhou o presente dentro dela, com seu papel amassando todo, pela segunda vez. Embora fizesse sol e calor, suas mãos estavam frias e seus lábios partidos e vermelhos, cobertos por uma camada fina de brilho labial. As bochechas rosadas pelo sol do dia anterior, assim como seu decote marcado exatamente no corte da outra blusa que vestira.
O cigarro queimava entre seus dedos. Sua mão permanecia imóvel sobre a mesa, apoiada no cinzeiro, onde caíam as cinzas do cigarro que fumava a si mesmo. Suas pernas balançavam lentamente enquanto ele olhava pela janela e via o sol se pondo daquela tarde tão triste de outubro. Uma lágrima insistia em permanecer em seus olhos, mesmo quando a outra mão a limpava, ela voltava e, assim, escorria por sua bochecha rosada morrendo em seus lábios esbranquiçados e secos.
"Eu não sei por onde começar...", pensava ela enquanto permanecia sentada com suas lembranças embaralhadas e confusas. Tanta coisa na cabeça, tanta saudade das coisas que nunca viu e tanto desejo de sentir de novo o que nunca sentiu, aquilo tudo que apenas cogitou, sentia saudades de cogitar novamente sem que lhe trouxesse aquela dor que há duas semanas estava em seu coração, que apenas se acomodou, não passou.
O espetáculo começaria só às sete da noite e ainda faltava uma hora para sair de casa, porém, Clarisse já estava pronta. Colocara seu vestido preferido: o roxo; e aquela noite, sem dúvida alguma, seria inesquecível. O céu já estava escuro e as estrelas pareciam brilhar mais do que o normal. A brisa era fresca e tocava os fios negros da garota, esvoaçando-o.
Seu coração batia tão rápido e forte que qualquer pessoa que passasse ao seu lado naquele momento poderia ouvi-lo, andava tão rapidamente que esvoaçaria o cabelo de qualquer um que estivesse no caminho, e mais rápido ainda passou pela porta do hospital. Meia hora atrás estava deitado em seu sofá, mudando incessantemente os canais da TV enquanto tomava um grande copo de suco de maçã. O celular vibrou no bolso e ele atendeu. Seus dedos no controle remoto não se mexiam e o copo de suco foi parar no chão, derramando o mesmo.
Era novamente sexta-feira, era novamente frio, era novamente uma noite só. Só, porém não triste. Estava sentada no sofá quase que com as costas, de tão pra frente que estava seu quadril. Foi escorregando no sofá até o ponto extremo que suas pernas agüentariam segurá-la daquela maneira. Mantinha um braço sobre a barriga, o outro escorado no braço do sofá e seus dedos batiam aleatoriamente no mesmo. Há dias que a imagem do homem daquela sexta-feira estava na sua cabeça, presente em sua lembrança. Quanto tempo já fazia? Um mês? Dois? Mais? Não sabia ao certo. Depois de sair daquele bar, apagou muita coisa de sua memória e queimou, literalmente, as roupas que havia usado àquela noite. Aquilo já não a atormentaria mais não fossem algumas ligações e recados na secretária eletrônica. Queria deixar tudo aquilo que viu pra trás, de uma vez por todas.
Cansei, de novo. De acordar todos os dias na mesma hora pra fazer algo que é voluntário, porém que é minha obrigação. Cansei de ainda não ter aprendido o francês que tanto queria e meu inglês estar ficando cada vez melhor; deixe-me esclarecer, não cansei do meu inglês ficar melhor, mas do fato de não ter aprendido francês porque ele está ficando melhor, entendeu? Cansei de dizer coisas que sempre levantam questões, pois, na maioria das vezes, tem sentido ambíguo. Cansei de cometer os mesmos erros de outrora e alguns novos, dos quais me arrependo e não posso voltar atrás, de não ter mais tempo e a corda já estar quase me enforcando, um pouco mais apertada a cada dia que passa. Cansei da minha falta de criatividade pra escrever num blog que antes eu escrevia quase que diariamente. Cansei de não ter inúmeros leitores elevando o meu ego e me fazendo querer escrever mais. Cansei de querer escrever mais e mais ainda da idéia nunca sair realmente da minha cabeça, ficar apenas nela, martelando, martelando, até ser esquecida. Cansei de não rever os velhos amigos e não tê-los pra rever. Cansei de ser tão anti-social e mal humorada, de gostar de matemática e não conseguir mais ler um livro até o final. Odiei o fato da Unicamp ser junto da UFPR (isso foi um desabafo). Cansei de ter medo de arrancar meu outro dente do siso e do fato de ele estar doendo cada dia mais. Cansei das mesmas músicas que sempre tocam e das três mil e poucas que tenho no meu computador. Cansei de as pessoas acharem que tenho de ser um modelo de perfeição, mesmo com todos os erros que cometo não poder ser perdoada, cansei de ser humana e errar, pois “errar é humano”, mas ninguém enxerga isso na hora de me cobrar ou apontar-me o dedo. Ah, cansei de novo das pessoas que são patriotas só em COPA do mundo, quero só ver 2014. Cansei dos mesmos programas da TV, principalmente os de domingo, que apelam pra uma emoção barata causando, na verdade, o ridículo (isso é só a opinião de uma garota de 17 anos, não leve em consideração). Cansei de não ter uma biblioteca particular, com todos os livros que preciso e os que quero ler, embora não esteja lendo nada até o fim ultimamente, bem queria. Cansei de ainda não ter completado a minha coleção de livros do Marcelo Rubens Paiva, faltam só dois (Ua: Brari e Blecaute), alguém se habilita a me dar de presente? Dia 28 de dezembro está ai. Cansei de não ter um verme se quer pra ouvir os meus comentários sobre qualquer coisa durante as aulas de cursinho e de fazer cursinho. De existir listas de espera sendo que nem todos serão chamados. Pra quê? Pra causar uma esperança hipócrita de que você pode entrar na faculdade e depois dar de cara no chão quando todas as sete chamadas foram feitas e seu nome não estava entre elas? Fiquei mais feliz quando não vi meu nome entre os aprovados do que na lista de espera. Cansei de “ser vilipendiado, incompreendido e descartado. Quem diz que me entende, nunca quis saber...”. Cansei de escrever sobre as coisas que cansei.
Música:
How long, how long will I slide
Separate my side, I don't
I don't believe it's bad
Slittin' my throat
It's all I ever...♪
Red Hot Chili Peppers - Otherside
Certa vez, em algum lugar, li que temos que escrever sobre o que sabemos, que não adianta escrevermos sobre amor ou coisas banais se nunca as vivemos.