sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Insone

Era, exatamente, cinco e quinze da manhã quando ela olhou no relógio. Revirou-se na cama, ajeitou o travesseiro e colocou a mão por baixo do mesmo. Respirou fundo e fechou os olhos... Dois minutos depois, virou-se novamente. Deitou de barriga pra cima, isso era sinal de que demoraria ainda algum tempo pra dormir. Colocou uma mão embaixo da cabeça e outra sobre a barriga.
Prestava atenção no tic-tac do relógio e pensava em tudo, absolutamente tudo. Riu sozinha dela mesma perdida em seus pensamentos e por ser tão tola a ponto de não estar conseguindo dormir e sem um pingo de sono. Lembrou-se de como foi o dia e se deu conta de que estava com fome; não havia jantado.
Ouviu um ranger de cama no quarto ao lado e teve esperança de que fosse alguém levantando. Levantou-se e foi até lá pra ver, doce ilusão, apenas tinham se revirado, como ela mesma havia feito há seis minutos atrás. Desapontou-se com a sua falta de sorte. Estava elétrica e mais acordada que nunca; queria conversar, contar sobre seu dia, sobre suas teorias, histórias, queria escrever, ler e dançar, cantar, gritar e pular. Queria tudo e ao mesmo tempo apenas dormir.
Na volta pro quarto seu estômago roncou e sentiu aquele vazio de fome, porém, a preguiça era grande demais pra comer algo naquele horário, sem contar o fato de que não gostava de dormir de estômago cheio, mas, dirigiu-se para a cozinha. Abriu a geladeira e parou pra pensar, como sempre fazia: abria a geladeira pra pensar. Olhava, olhava, sempre ciente de que não havia nada lá além do que realmente tinha, porém abria como se tivesse esperança de que algo fosse, milagrosamente, aparecer. Pensou um pouco diante da velha e pobre geladeira branca e pegou apenas uma garrafinha d’água. Bebeu metade da água que tinha nela e depois a guardou.
Na volta pro quarto parou no meio da sala e olhou pra TV, sentiu um tanto de medo, não fazia tempo que tinha assistido “O Chamado” e pensou bobagem; perguntou-se então se queria assistir algo, mas decidiu que não, Scrubs já tinha acabado, e provavelmente pegaria um programa qualquer pela metade.
Era silêncio demais pra uma pessoa só. Olhou pela janela, que era iluminada pela luz da lua e teve vontade de ir lá fora ver como estava o céu. Quis estar no alto de uma colina, deitava sobre um lençol vendo o sol nascer depois de uma das mais longas madrugadas que já teve; quis sentir o friozinho da neblina ao invés de estar no meio da sala, apenas imaginando essas coisas...
Em passos leves, pra que ninguém acordasse, foi para o quarto e deitou-se na cama devagar pra que ela não fizesse muito barulho. De barriga para cima. Olhou a sombra que o móbile fazia no teto e achou engraçado, até acendeu o celular e fez um bichinho na parede com a luz dele. Já era cinco e trinta e quatro e nada de dormir. Desejou que sua mãe a deixasse dormir até tarde.
Arrumou o travesseiro e colocou as mãos sobre sua barriga. Olhou pro relógio e ouviu seu tic-tac misturando-se com o silêncio, sorriu, pois o barulho do relógio não a incomodava mais. Um ônibus, o primeiro de muitos naquele dia, passou na rua e quebrou o silêncio.
Bocejou, deitou-se de lado e sorriu, imaginando como descreveria aqueles intermináveis vinte e seis minutos. Dormiu!


Música:
Sempre precisei de um pouco de atenção...♪

Legião Urbana {} - Teatro dos Vampiros


Au revoir. =*

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A mais triste

Já fazia quase uma hora e meia que eu estava sentado naquela cadeira, junto apenas com uma mesa e um tanto de solidão. Fazia frio demais e nem o terceiro copo de conhaque tinha me aquecido ainda. O bar estava praticamente vazio pra uma noite de sexta feira, mas creio que era por conta do frio congelante que fazia na rua; as mesas estavam quase todas vazias, apenas quatro ou cinco delas estava ocupada, por casais, isso não me incluía, pois, como disse, estava sozinho.
Quase terminava o terceiro conhaque quando a porta do bar se abriu, exatamente às duas da manhã; era uma mulher. Ela vestia uma blusa de lã azul que, provavelmente, tinha sido feita à mão, um casaco preto por cima, que era até fino demais pro frio que fazia. Um cachecol também preto e calça jeans. A calça era justa e desenhava suas longas pernas perfeitamente até chegar em seu scarpin azul, quase do mesmo tom de sua blusa.
Apesar da música que tocava, pude ouvir o salto de seus sapatos batendo no chão quando ela foi até o balcão e sentou-se cruzando as pernas. Minha vontade de ir embora havia passado e, se estivesse menos frio, eu o teria esquecido. Seu cabelo era castanho escuro e ondulado, estava um tanto bagunçado devido ao vento que fazia lá fora, mas arrumou-o logo que se sentou. Sua pele era branquinha e parecia macia, suas bochechas estavam rosadas, assim como seus lábios, que aparentavam estar sem batom algum.
Bebi um gole do meu quarto copo de conhaque que já estava chegando ao final e a olhei novamente quando pediu um Martini e baixou o olhar para seus dedos, que, aleatoriamente, batiam no balcão. Percebi uma imensa delicadeza em suas mãos quando arrumou a franja atrás da orelha e pegou o Martini. Quis, por um instante, ser aquela taça quando ela levou até seus lábios rosados e levemente partidos pelo frio.
Senti minhas bochechas corarem e fiquei envergonhado por um momento. Baixei minha cabeça e ri comigo mesmo, tomando então o último gole do meu conhaque. Não pedi outro, não precisava mais, a presença dela havia esquentado um pouco o ambiente.
Olhei-a novamente e meus olhos encontraram os dela. Ela olhava pra mim. Aqueles olhos castanhos e profundos agora não estavam mais olhando pro nada, eles se encontravam e se refletiam nos meus. Meu coração pulsou mais forte, como nunca havia acontecido antes e eu não conseguia desviar meu olhar do dela. Percebi então que não era um olhar feliz ou de interesse, mas sim de solidão. Aqueles olhos transbordavam imensa solidão, era vago e triste como se lhe faltasse algo. Senti toda aquela solidão pousar sobre mim e a noite ficou mais fria que antes.
Eles gritavam pedindo socorro por algo, pra alguém; mas ninguém ouvia, ninguém lhe dava atenção. Seus olhos brilharam e uma lágrima nasceu. Ela desviou os olhos dos meus e baixou a cabeça, sua franja caiu em seus olhos e, rapidamente, antes que as lágrimas chegassem em seus lábios, limpou o rosto com aquelas mãos delicadas e macias, arrumando a franja atrás da orelha novamente.
Não voltou a olhar pra mim, apenas tomou um último gole de seu Martini e pagou-o, deixando uma gorjeta para o garçom; colocou sua bolsa novamente em seu ombro e levantou-se. Passou os olhos pelo bar quase vazio, parou seus olhos em mim e respirou fundo, como se quisesse dizer algo, como se suplicasse ajuda, porém não o fez, baixou a cabeça e saiu, deixando para trás apenas o eco do salto de seus sapatos. Pedi outro conhaque ao garçom. Sua imagem não saía da minha cabeça, seus olhos tristes deixaram em mim uma tristeza, uma paixão, nunca acharia olhos tão sinceros e tristes em outro lugar. Ela deve ser a garota mais triste do mundo que já segurou um Martini nas mãos...



Música:

A menina mais triste do mundo
com um copo de bebida na mão
não conhece ninguem ao seu lado
ela não precisa
disso não...♪

O Sol Faz Bem Pra Mim - Patrões

Bisous. ;*