quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

São tudo pequenas coisas...

Estava sentada. Nua. Quase nua. Não fosse pela blusa vermelha, ironicamente vestida para o natal, e pela calcinha verde. As longas pernas se cruzavam sobre a cadeira na varanda. Um cigarro de cereja queimava entre seus dedos e, na outra mão, um copo de vinho. De morango. Seu preferido.
Sozinha. Natal. Cigarro. Bebida. Vento e tempo de chuva. O céu estava vermelho, em plena 23 e 53 da noite. Alguns raios iluminavam o céu e alguns trovões se atreviam a deixar seu som ecoar por todos os poucos cômodos do apartamento, que estava totalmente aberto. Janelas e portas completamente escancarados. Apenas estava fechada a porta de entrada do apartamento. No mais, absolutamente tudo aberto. Inclusive a porta que ficava atrás dela. De vidro. Calor. Vento.
Alguns fogos de artifício ao longe misturavam-se com os raios enquanto ela dava uma longa tragada em seu cigarro. Embora a maioria dele queimasse ainda entre seus dedos, era só pra variar. Na verdade, era uma forma de diversão. Afinal, o que mais fazer nesse natal se não beber e mudar a rotina? Mesmo que a rotina permanecesse. Algumas ligações não atendidas e torpedos não lidos. Apenas estava só, sem preocupar-se com muito mais do que a chuva que logo chegaria. Descruzou as pernas e as cruzou ao inverso. Largou o cigarro no cinzeiro, apagando-o e bebeu mais um gole de seu vinho, terminando o que havia na taça.

Respirou fundo e procurou seu celular sobre a mesa que estava ao seu lado, deixando o copo sobre a mesma. Mudou para 23 e 59 naquele minuto. Ela sorriu para si mesma, sarcástica. Ouviu o barulho da fechadura e passos. Largou o celular e virou o pescoço até onde alcançava. Acompanhou-o com os olhos até ele se sentar na cadeira que estava ao seu lado. Esticou sua mão e entrelaçou seus dedos aos dela. Fogos e risadas ao longe. Vozes. Meia-noite. Ela inclinou-se sobre ele, que a olhava com um sorriso nos lábios. Deu-lhe um longo selinho estalado e, sem descolar os lábios, com a voz baixa e rouca desejou-lhe um Feliz Natal.
Chuva e um latido.
Quem sabe?


E não é que milagres natalinos acontecem? Até mesmo ao Grinch. Um pouco afeminado, convenhamos.

Feliz Natal!

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