quinta-feira, 30 de abril de 2009

Revanche?

Mais uma noite e ela simplesmente não agüentaria. Tentara de tudo no último mês e nada surtiu efeito. Na verdade, efeito surtiu, mas não veio com o resultado esperado. E ela o odiava e o amava simultaneamente. Primeiro o odiava por resistir tanto e segundo o amava exatamente por resistir daquela forma. Apesar de todos os esforços, ela gostava do jogo que jogavam, da maneira desafiadora que ele a olhava, a provocava e quando ela começava a ceder e provocar, ele desconversava, provocava, desconversava de novo e só fazia sua vontade aumentar, firme e forte em sua promessa, em seu propósito. Torturando-a.
Naquela noite, porém, ela estava um tanto quanto decidida. Já havia algumas noites mal dormidas, em que seus braços eram afastados do peito dele e, enquanto ela se debatia na cama, ele ria e apenas observava. Depois dava-lhe um beijo e lhe desejava um boa noite debochado. Até chegou a tentar psicologia reversa, parando de provocá-lo, esquecendo-se de que quem tinha poder psicológico entre os dois era ele, e não ela. Idéia inválida. Desistiu.
Chegou da rua e deixou suas coisas de lado. Trocou de roupa e colocou o pijama. O olhou de cima a baixo na sala e não deu uma palavra sequer com ele, apenas o cumprimentou quando entrou. Sem beijo, sem abraço, sem nada. Foi até a cozinha e pegou um copo de água, voltando pra sala logo em seguida, onde ele permanecia sentado, assistindo à televisão. Apenas a olhou de canto e ela sorria maliciosamente, mas de uma maneira diferente, segurando o copo de água em uma das mãos, o observando sem desviar os olhos e, por vezes, tomava um gole de água. Intrigado, então, perguntou o seu tão famoso “O que foi?”, abrindo um sorriso pequeno no canto dos lábios e apertando os olhos, desconfiado do que poderia estar se passando naquela mente fértil que só ela tinha.
Ela abriu mais o sorriso, terminou de tomar a água que havia no copo e anunciou que a greve agora era dela, sentindo-se completamente vencedora, crendo piamente de que a vitória era dela e agora quem sofreria com isso seria ele ou que, ao menos, sua tortura acabaria. Ele, porém, com toda a sua ironia, revidou:
- Justamente agora que não estou mais em greve, tsc.
O sorriso desapareceu de seu rosto, dando lugar a uma expressão séria. Arqueou uma das sobrancelhas e abriu a boca como se fosse dizer algo, mas não o fez. Engoliu a seco, desencostou da parede e caminhou até a cozinha pisando firme no chão. Colocou o copo sobre a pia de uma maneira brusca, a ponto de fazer com que o som ecoasse por outros cômodos, enquanto ele ria baixo na sala da reação que ela havia tido. Saiu da cozinha da mesma maneira que entrou, apagando a luz. Passou pela sala e não desviou os olhos em direção ao sofá. Ele, por sua vez, conteve o sorriso enquanto ela passava e a seguiu com os olhos até ela entrar no quarto, voltando-se novamente para a televisão.
Alguns minutos depois ela estava de volta à sala. Inclinou-se sobre ele, entrando em frente à TV, tirou o controle de sua mão e desligou a mesma. Ele apenas a seguiu com os olhos e não retrucou ou se esquivou.
Aquela noite passaram no sofá.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Before dying.

Todos dizem que antes de morrer nossa vida toda passa diante dos olhos num piscar de olhos e refletimos sobre tudo o que aconteceu em poucos segundos, causando arrependimento e dor. Dizem também que as pessoas, ao se arrependerem, purificam-se, e por isso se santificam depois de mortas. Mas a única coisa na qual consigo pensar é no dedo dele no gatilho, meus olhos não desgrudam do cano da arma e nem ao menos chorar consigo. Estou completamente estagnada. Parada com uma arma apontada pra minha cabeça, bem entre os meus olhos. E todos os meus sentidos parecem mais aguçados, meu coração é como um tambor batendo dentro do peito e eu sinto ele palpitando em todo o meu corpo. Posso sentir até mesmo o sangue correndo pelas minhas veias. Sangue esse que não vai demorar a se derramar se ele puxar esse gatilho.
Não estou revendo toda a minha vida, ela é longa e eu não lembro de tudo o que fiz ou deixei de fazer. Fiz tanto e ao mesmo tempo tão pouco. Deixei de fazer, refiz, cometi erros antigos e novos erros. Pedi perdão e fui perdoada. Beijei, abracei, fui beijada e abraçada. Confundi nomes, idades, esqueci datas de aniversário e chorei nos meus aniversários. Fui criança, subi em árvore, tive medo de escuro e de altura. Medo do bicho-papão e da Cuca. Assisti à filmes de terror, comédias, romances e chorei com eles. Chorei muito, ri muito, trabalhei pouco, estudei menos ainda. Alcancei objetivos, mas não todos. Não penso que tenho muito ainda pra viver, talvez esse seja meu fim, e estou conformada com isso, com todos os sonhos que vão por água abaixo se o dedo dele apertar esse gatilho.
Pensei em coisas boas, mas e as coisas ruins? E a tristeza que causei? As pessoas que fiz chorar? Que magoei? Que fiz esquecer e abandonei? E todas as palavras de carinho que eu podia ter dado e não dei? Os abraços que deixei de entregar ou beijos que neguei? O que vai me fazer pura daqui pra frente? E se eu não me arrepender, será que vou pro céu mesmo assim? Será que existe realmente um céu destinado às boas pessoas? Mas o que são boas pessoas? Alguém soberbo que doa uma quantia em dinheiro todo mês pra alguma instituição pra mostrar-se melhor que os outros? Isso é ser bom? Se for, eu não sou boa. Não dividia meu dinheiro. Dar esmola na rua, conta? Se contar, então fiz coisas boas. Dar dinheiro é fazer algo bom? Se for, presidentes que distribuem bolsas “não-sei-o-quê” são santos, mesmo roubando milhões daqueles que não têm condições. Isso é tapar o sol com a peneira. Não há pessoas boas ou ruins, não há certo ou errado. Pessoas são medíocres, agem de acordo com a situação. Se tem de ser boa, será boa. Se tem de ser ruim, será ruim.
Bondade e maldade enlatada. Porque novelas dão ibope? Porque é bom ver a desgraça do próximo. É melhor ver a desgraça do próximo do que amar seu semelhante. É melhor comer a mulher do amigo do que não desejar a mulher do próximo. Somos gulosos, invejosos, preguiçosos, vaidosos. Vivemos irados com engarrafamentos e só não mandamos nossos patrões pra alguns lugares não favoráveis porque somos egoístas e orgulhosos demais pra perder aquilo que nos sustenta e admitir que, apesar de tudo, gostamos. Ou desgostamos. Muitas das coisas que fazemos ao longo da vida, gostamos? Ou fazemos porque a maioria faz? Ouvimos pra mostrar que não somos deslocados. Vestidos porque caiu bem no corpo do amigo. Elogiamos com a vontade de ser igual e com a veia da inveja pulsando para que a pessoa tropece na primeira pedra, só pra satisfazer o nosso desejo doentio de vê-la por baixo.
E qual é o desejo dele? Isso, pra ele, é me ver por baixo? Por que eu? O desejo dele é ver sangue? É levar aquilo que eu tenho de valioso? Minha vida é valiosa pra ele? Não me importo se ele puxar o gatilho. E não vou me arrepender pelas coisas que fiz, tudo foi meticulosamente programado e provavelmente, em outrora, eu já me arrependi. Eu nem ao menos sei se isso vai me salvar. Salvação... Não sei se acredito nela. Talvez o meu destino seja a reencarnação. Ter a chance de me redimir de tudo de errado que eu fiz nessa vida. Ou talvez a minha alma fique vagando por ai durante a eternidade. Posso também virar um anjo e dormir sobre as nuvens, soprar coisas boas na cabeça das pessoas. Posso virar uma diabinha também, e soprar no ouvido dele pra atirar em mim.
Só se passaram alguns segundos, meus olhos continuam fixos no cano da arma enquanto eu penso em milhões de coisas ao mesmo tempo. E é tudo tão confuso e claro. Certo e errado, bom e ruim. Tudo é nada, e nada me satisfaz. O tudo é confuso demais e eu me sinto aliviada, pois talvez eu não precise mais lutar pelas coisas que eu desejo. Ele começou a caminhar pra trás, levando minha carteira, relógio, bolsa e colar. É isso então? É assim que termina? Ele não vai me dar aquilo que eu tanto queria? Uma libertação talvez? Não. Ele simplesmente foi embora. Me deixou com as minhas perguntas, minhas antigas ambições, minha falta de vontade de levantar ou concluir tudo o que eu havia planejado para minha vida. Agora eu faço o quê? Levanto e sou hipócrita o suficiente pra viver alucinadamente e aproveitar ao máximo a minha vida? Eu só queria que ele tivesse puxado o gatilho e me libertasse de todas as minhas questões.
Volto, agora, a ser a pessoa ambiciosa de antes, machucando alguns, dando esmola para outros. Seria mais fácil não ter de fazer escolhas, porém a vida seria sem graça. Uma pena meu chocolate ter ficado dentro da bolsa.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

The right guy.

Sabe quando o sol bate no rosto daquele cara que se destaca no meio da multidão e você pensa "é ele"? Porque os olhos dele reluzem mais do que qualquer letreiro que esteja ao redor, os cabelos dele parece que brilham e esvoaçam com o vento. A camisa que ele veste parece que foi feita na medida, o nariz dele desenhado e os lábios quase que irresistíveis. Então você tem certeza de que é ele, de que poderia passar o resto da vida com ele. Tem certeza de que é amor à primeira vista e de que ele é o cara perfeito. Quando, na verdade, está absolutamente enganada. O cara perfeito é aquele que estava ao lado, que pode não ter os cabelos tão brilhantes e os olhos tão verdes e reluzentes; é aquele que usa óculos, tem os cabelos meio encaracolados e pretos, é alto, magro e tem o sorriso mais encantador que já viu. É aquele que vai te fazer sentir feliz com um simples sms no meio da madrugada, que vai segurar sua mão e vai te dizer pra não ter medo antes de dormir ou quando a luz acabar. Ele vai saber a hora certa de dizer que te ama, vai amá-la pelo que é e não pela sua aparência. É aquele que vai pensar em você antes de dormir e na hora que acordar. Que vai pensar em você ao longo do dia e sorrir bobo ao receber um torpedo quando ele estiver dentro do ônibus. O cara certo, você não vai achar só porque o sol bateu nele no meio da multidão e ele olhou pra você com os olhos cerrados, como se quisesse vê-la melhor; sendo que isso era só pra que a luz não doesse tanto nos olhos dele. Quando o cara certo chegar, você não vai perceber, porque ele vai fazer de tudo pra esconder, chegando até a ser um pouco frio e haver algumas discussões entre vocês, pois talvez ele tenha medo de dizer tudo o que sente ou tenha que pensar melhor se realmente é pra sempre por medo de te machucar, porque você vai ser a garota certa pra ele. O cara certo vai te conquistar aos poucos, sem que perceba. E num ataque de ciúmes vai se declarar, te fazendo ficar completamente caída de amores. Mesmo que ele tenha uma namorada e você esteja com aquele cara que você achava que era o certo. E então você vai perceber que aquela "queda" que tinha por ele antes era, na verdade, um sinal de que ele sim era o cara certo, mas que você custou a perceber. Vai realizar de que o outro não passa de alguém extremamente egocêntrico e indiferente a tudo aquilo que você sente. E o melhor: vai descobrir que é tão apaixonada pelo cara realmente certo quanto imaginava, mesmo que seja tomada pelo medo de deixar aquele que achou no meio da rua.
E então ele vai fazer todo o medo ir embora toda vez que dizer que te ama, vai fazer seu coração disparar todas as vezes que ele disser, mesmo que sejam seguidas. As borboletas vão aparecer no estômago quando se virem e as mãos vão suar, mesmo depois de dez meses juntos. Você ainda vai se pegar sorrindo ao ler os torpedos que não apagou do celular mesmo depois de dez meses; vai sonhar ainda com o primeiro sorriso trocado. Vai se sentir mais perto dele quando jogarem um simples jogo juntos, por mais próximos que já estejam, o simples fato de estarem fazendo juntos, os juntará mais. Vai ver jogos de futebol por ele e gritar gol no meio da noite, mesmo que ele não esteja por perto. Vai querer vê-lo dormir e se afogar no travesseiro, pois ele dorme com a cabeça enfiada nele. Vai chorar de felicidade quando perceber que quer ele por perto pra sempre, que aquele poema que em outrora não fazia sentido, hoje faz menos ainda, porque o amor que sente é maior do que foi colocado em palavras com versos decassílabos. Esperará pacientemente pela hora em que ele chegar e sentirá saudades quando não o vir por um dia. Vai chorar de saudades, chorar de alegria, chorar ao dizer que o ama, chorar ao pensar em vocês dois juntos; talvez fique treinando expressões faciais no espelho quando tiver de falar algo pra ele, e então cairá na risada, porque não vai usar nenhuma delas. A única coisa que vai usar é seu melhor sorriso pra ele, porque ele merece todos os melhores sorrisos, todos os melhores beijos e os mais apaixonados, os abraços mais apertados e as lágrimas mais sinceras. Os "eu amo você" mais bem ditos ou mesmo sussurrados ao pé do ouvido. Você vai sentir que o amor, tanto da sua quanto da parte dele, só cresce a cada dia e ele vai ser perfeito só no "eu te amo", porque é isso que vai bastar. É só isso que vai bastar pra sempre, e sempre mais. E é ele quem você vai querer ao seu lado pelo resto dos seus dias. Esse é o cara certo.



You're my right guy, G.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Do not disturb...

Esquisita sempre foi o primeiro adjetivo atribuído a mim. Depois melhoravam. Alguns me achavam bonitinha. Às vezes ouvia algum maluca. Anti-social. Nerd. Mas o que eu mais ouvia, eram risadas. Risadas daqueles pobres coitados que hoje estão abaixo dos meus pés. Literalmente.
O primeiro foi Joey. Ele era o mais insuportável e idiota de todos. Uma daquelas pessoas que não merecem pisar na terra. Ele merecia virar grama, e eu tenho certeza de que fiz um favor a sociedade quando o matei. Não o via há anos, desde o colégio. Desde aquela última vez que ele apontou o dedo na minha cara e riu de mim. Não preciso entrar em detalhes sobre o porquê dele ter rido. Era um motivo babaca. Babaca como ele. E a última vez que o vi, o idiota me passou uma cantada barata. Obviamente ele não sabia quem era eu e o quanto esperei pra encontrá-lo. Eu não tinha planejado, na verdade. Nunca tinha pensado que faria tal coisa, mas sempre fui tão vazia. E quando eu ouvi as palavras saindo de sua boca, daquele jeito que só ele saberia falar e com a língua presa, não tive dúvidas de quem era. Sabe, as pessoas evoluem. Pessoas mudam. Eu mudei. Não nego que era um tanto quanto estranha no colégio, mas desde quando isso é motivo para que babacas como Joey simplesmente se aproveitem disso para fazer graça sobre o meu caráter? Foi engraçado, porque quando eu perguntei se ele tinha um último desejo, ele riu. Achou que era uma brincadeira. Ao menos ele morreu sorrindo, não?
Você deve estar se perguntando como o matei. Na verdade, foi algo demorado, e creio que ele tenha morrido de dor, ou de tanto sangrar. Pois quando eu achei que tinha acabado e ia fazer o meu grande final, ele já não respirava mais. Fraco, morreu durante a tortura. Só me arrependo de tê-lo amordaçado. Eu devia ter ouvido os gritos de dor antes de acabar com ele, ou a cada corte.
Mas, enfim... Quem veio depois foi Cassey. Sim, isso é irônico, o nome de ambos terminam com as mesmas letras. Eles eram namorados no colégio, e não teve um garoto com quem ela não foi pra cama. E não pense você que isso é ciúmes ou inveja, isso é simplesmente nojo. Ela me dava asco, me fazia querer vomitar. O tipo de garota que não prestava nem pra ter peitos ao invés de cérebro. Essa eu fiz questão de ir atrás. Não quis esperar que o destino me levasse até ela. Embora não tivesse quase seios, foram a primeira coisa que tirei dela. Me arrepio enquanto conto pra você, porque a vadia achou que eu tinha algum fetiche estranho. Ela fazia programas com homens, mulheres, só casais... Achou que eu era só mais uma cliente. De que vale ser bonita e não ter um cérebro? É dessa maneira que uma mulher assim acaba: como uma prostituta morta de 29 anos.
Não, errou. Eu sou um ano mais nova que ela.
Depois vieram mais alguns... Mathew, Audrey e Lucas. Não tenho arrependimento por nada, por nem uma gota de sangue sequer. Nenhum deles pensou duas vezes antes de nada do que falaram.
Façamos um acordo. Um quarto escuro. Uma cadeira. Sem janelas. Só uma porta. Uma porta sempre fechada. Está com fome. Ouve ruídos mas não tem idéia de onde vêm. Os olhos não notam um sinal de luz. A porta se abre. A luz entra. Uma corrente de ar. E se fecha. Um corpo. À sua direita ou à sua esquerda. Não olhe pros lados. Mais um ruído. Um perfume bom que chega às suas narinas. Um suspiro. E então uma faca passa rapidamente pelo pescoço. Esse é seu fim.
Não diga uma palavra!

sábado, 17 de janeiro de 2009

I dare you!

Ela precisou de apenas um deboche pra virar-se em direção a ele e arquear aquela sobrancelha odiosa que sabia que ele não gostava. O sorriso de deboche sumiu de seu rosto no instante em que ele a viu erguida, aquela única sobrancelha, e soube que pagaria por aquilo, soube que ela faria o impossível pra provar que ele estava errado em relação ao que ele havia dito e isso, na verdade, não o fez recuar, só fez aumentar o sorriso em seu rosto, mas agora numa forma de desafio. Ele soube de tudo isso nos mesmos segundos em que ela soube que ele a infernizaria pra sempre caso ela não aceitasse o desafio e provasse que ele estava errado. Engoliu seco e quase deixou transparecer a sua insegurança quanto ao que faria.
Então ela ameaçou pra disfarçar. Aceitando o desafio ela disse que ele não perdia por esperar. Novamente o sorriso odioso de deboche apareceu em seu rosto, como se ela não fosse capaz de fazê-lo. Não sabia se o odiava por isso ou se a fazia amá-lo mais. Deu de ombros e o deixou com o sarcasmo inflado dele sozinho, enquanto ela caminhava para uma longa noite de sono na cama. Ou não.
As palavras dele em tom de desafio, que foram poucas, cinco ou seis; ficaram em sua mente, martelando o tempo todo, desde a hora em que ele disse, até a hora de escovar os dentes pra cair na cama e dormir. Faziam com que ela tivesse de espremer seu cérebro, o qual ele duvidava que ela tivesse, até ter uma idéia brilhante. Não dividiu o banheiro com ele na hora de escovar os dentes como todas as noites, fez questão de sair antes e deixá-lo com a pulga atrás da orelha ao dizer que já sabia o que faria, quando, na verdade, não tinha idéia. Mas ela sabia que isso lhe causaria certa preocupação, pois se ela conseguisse, ele teria de se desdobrar e espremer o cérebro do qual ele tanto se gabava em ter.
Mais um pouco de enrolação e finalmente dormir. Ou não.
Ela não se virava muito na cama, pois sabia que se o acordasse ele faria alguma pergunta a respeito, sabia que ele saberia que ela estava preocupada em não conseguir fazer o que ele havia destinado que fizesse. Levantou-se, enfim, não agüentando o calor infernal. Olhou-o por um tempo estirado sobre a cama e pensou por um instante. Um sorriso nasceu em seu rosto e correu na ponta dos pés até a sala. Trouxe dela o notebook que estava sobre a mesinha de centro e sentou-se bem devagar na cama, tentando ao máximo não fazer barulho ou movimento suficiente para que ele acordasse. Embora seus esforços tenham quase ido por água abaixo quando o windows iniciou e tocou a musiquinha irritante. Ele se mexeu sobre a cama, enfiando a cabeça no travesseiro e ela riu baixo, pois sabia que a qualquer momento ele se afogaria.
Abriu o Word. Fonte Arial, tamanho 10. Às duas e quatro da manhã teria terminado de escrever se o programa não tivesse dado erro. Queria berrar. Entrou em desespero quando viu que o arquivo não havia sido salvo. Como provaria que havia escrito se não tivesse o texto em mãos? Por alguma razão inexplicável, foi fuçar na lixeira e, por outra razão inexplicável, o arquivo estava nela. Respirou aliviada ao ver que não tinha perdido seu tão precioso trabalho e sorriu novamente, dando mais uma olhadela para o lado. Salvou o arquivo e desligou o notebook, deitando-se com a barriga pra baixo e um sorriso no rosto. Espero que ele tenha uma idéia tão brilhante quanto a dela. Dormiu, finalmente.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Trivial.

Eu estava sentada quando ele chegou. Trazia algo na mão, algo que eu não consegui decifrar o que poderia ser. Era de manhã, por volta das 7 e 30, mais ou menos. Estava chovendo bem fraquinho na rua e, conforme os carros passavam, eu podia ouvir o barulho das rodas quebrando as gotas de chuva. A porta anunciou sua chegada com aqueles sininhos de lojas pequenas e, rapidamente, desviei os lábios da minha xícara de café e levantei os olhos para a porta, vendo a sua entrada.
Estava frio, ele estava pálido e seu sobretudo tinha até algumas gotas de água nos ombros. Eu não sei descrever a sensação que eu senti quando vi aqueles enormes olhos negros passearem por entre as mesas. Foi simplesmente como se meu coração tivesse parado, o único som que eu ouvia era da respiração dele e não conseguia desviar meu olhar daqueles imensos olhos negros que pareciam me chamar pra perto. Meu café deixei de lado, já não tinha mais vontade e, toda a doçura que ele transbordava, parecia torná-lo totalmente amargo.
Então abri minha bolsa e ouvi novamente o barulhinho do sino da porta. Olhei pra ver se era ele que havia saído, mas não, felizmente ele ainda estava sentado no balcão, tomando um capuccino, eu acho. Só me lembro que havia uma espuma branca sobre ele e parecia bem quente. Cruzei minhas pernas embaixo da mesa e continuei a procurar incessantemente papel e caneta dentro da bolsa, por alguma razão, me deu uma vontade imensa de escrever, e também não sei exatamente o que senti naquele momento.
O meu café já estava visivelmente frio sobre a mesa e o jornal estava meio umedecido devido ao tempo frio e chuva que fazia. Havia tanto tempo nós, e eu nem ao menos poderia imaginar o que ele estaria fazendo da vida. Fora apenas uma noite e eu soube de toda a vida dele e fiquei completamente rendida, porém não o suficiente pra passar o meu número de telefone ou nome. E o dele? Ele passou, porém nunca liguei. Me apresentaria como? A garota do bar da noite passada? Não cai bem pra mim, pareceria certamente vulgar me apresentar assim. E talvez ele nem ao menos se lembrasse de mim. No café, tenho certeza de que ele nem ao menos havia me notado; também, como poderia? O deixei arfando sobre a cama e fui embora sem dar explicação alguma.
Achei, finalmente, o papel e a caneta, mas já não os queria mais, o celular dentro da bolsa me chamou mais a atenção. Olhei-o rapidamente e voltei os olhos pro celular. A essa altura você certamente já imagina o que eu fiz, não é? O celular vibrou no bolso dele. Rapidamente eu desliguei e disfarcei. O vi olhando pra todos os lados do café e peguei a minha xícara na mão, levei-a até a boca e tomei um gole daquele café horrível e gelado, fingindo ler a notícia principal do jornal. Não vi se ele parou os olhos em mim ou não, estava sem coragem de olhá-lo e com uma vontade quase incontrolável de rir. Precisava ir ao banheiro, logo seria a hora de sair pro trabalho, o café da manhã acabaria em alguns minutos.
Então coloquei a bolsa no ombro e me levantei, passando por ele. Fiz questão de respirar fundo e sentir o perfume dele, que ainda era o mesmo daquela noite e que ficou impregnado no meu corpo durante um bom tempo. Porém, continuei andando, embriagada pelo seu perfume. Uma ajeitada no cabelo era tudo que eu precisava. Ajeitei o cachecol em volta do meu pescoço e sai do banheiro, indo ao balcão pagar minha conta.
Mas algo realmente inusitado aconteceu. Sabe aquelas coisas de filme que pensamos que nunca vai acontecer conosco? Pois bem, aconteceu: ele levantou quando eu passava por trás dele e esbarrou em mim. Segurou meus braços pra eu não caísse, com força e ficou me olhando nos olhos. Abriu um sorriso e só disse em tom baixo um "você...", que logo foi esquecido quando os lábios dele vieram até os meus. Aqueles lábios quentes e que tinham um gosto doce. Eu acertei, ele realmente estava tomando capuccino.
Quando os lábios dele desviaram dos meus, apenas sorri e estendi a mão, apresentando-me, diferente da última vez. Paguei minha conta e em seguida ele pagou a sua. Provavelmente ele ficou me procurando no café quando virou-se. Se ele tivesse prestado atenção no barulho do sino da porta, teria corrido atrás de mim. Era melhor levar apenas a lembrança dos doces lábios com gosto de capuccino do que levá-lo para a cama novamente. Estava atrasada para o trabalho.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Like sugar..

Estava tudo tão calmo e ao mesmo tempo tudo tão barulhento. Ela podia ouvir os fogos de longe e ao mesmo tempo sua respiração calma e lenta. Seu sorriso era largo e brilhante, e era como se a cada vez que um fogo de artifício estourava no céu, sentia cócegas em sua língua, o que a fazia sorrir; como aqueles pacotinhos de açúcar que explode na boca quando chupados com pirulito e que as crianças gostam tanto. Então, aqueles... Explodiam no céu de sua boca e o riso saía alto de sua garganta.
Meia noite. Garrafas estourando, risadas ao fundo, mais fogos de artifício. Latidos, conversas. "Feliz ano novo", todos desejavam. A TV ligada e, ainda assim, com todo o barulho, ouvia nitidamente o bater do seu coração, era como se ele chamasse por algo, mas ninguém além dela podia ouvir, e ela mesma não poderia fazer nada pra mudar aquilo. Ainda assim, sorria. Não podia querer nada melhor, nenhum outro alguém ao seu lado além dele. Quem dera...
Bebeu três copos, mas não fizeram efeito, só algumas palavras tortas e mal faladas, nada além disso. Nem uma gota além das que caberiam naqueles três copos, que foram enchidos na medida certa nas três vezes.
Os minutos passaram, um 'te amo' foi solto no ar em meio a um segundo e outro, uma gagueira, um choro de saudade do que não se tinha e ao mesmo de alegria do que se tinha. Dormir. Não havia mais nada a fazer. Todos os rostos já haviam sido beijados e os lábios que deveriam ser ficaram em falta. Porém dormiram abraçados, com a promessa de um ano melhor. Ela e o travesseiro e uma lágrima que escorreu pelo seu rosto. Feliz ano novo! Esperam.



Ps: Me atrasei. Mas feliz 2009, escassos leitores! :*