quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Não ter...

A mãe virou pra ela e disse:
– Troca o CD – estava tocando umas músicas do tempo de sua mãe, obviamente, ela se encheu de alegria quando foi pedido que o CD fosse trocado. Não agüentava mais ouvir aquelas músicas e não poder cantar. Obviamente, pra manter sua pose de ‘brava’ e cara feia, ela não deixou que a aquele breve momento de felicidade transparecesse por sua expressão facial.
Sem muito pensar, ela apertou o botão do rádio e o CD logo saiu. Estava muito quente, afinal, fazia um bom tempo que estava tocando. Inclinou-se para frente e pegou o porta CDs que estava perto do câmbio. Abriu-o e começou a selecionar os CDs que ali estavam. Retirou um preto que tem umas músicas da Danni Carlos. Colocou o CD e deixou que ele tocasse todinho. Cantaram junto com Danni.
Acabado o CD, o seu humor estava magicamente um tantinho melhor – mas não se iluda, estava só um pouco, quase que imperceptivelmente melhor. Novamente, pegou o porta CDs, retirou o da Danni do rádio e, dessa vez, nada de internacional. Queria algo realmente cantável, então, retirou um que tem músicas do Acústico MTV do Capital Inicial e do Jota Quest.
“ Eu sou passageiro. Eu rodo sem parar... Eu rodo pelos subúrbios escuros, eu vejo estrelas saindo no céu. É o claro e o vazio do céu. Mas essa noite tudo soa tão bem...”
...
Cantaram todas as músicas junto com o Dinho.
De todas elas a garota tirou algo e sentiu algo a cada uma delas.
Sentiu vontade de ver o caminho do mar e as estrelas aparecerem no céu, vontade de ser um passageiro e rodar cantando ‘lá lá lá lá lálálá...’. Sentiu uma vontade absurda de, por alguns instantes, de já ter dezessete anos e se chamar Natasha, de ter sete vidas e de dançar enquanto o mundo acaba. Sentiu vontade de tirar os sapatos, jogar tudo pro alto, sentir o chão até que o mundo girasse ao seu redor.Quis ser uma das garotas que ‘querem mais’...
“Meia-noite, noite inteira, três, quatro e cinco da manhã. Eu vou embora mas eu sempre volto atrás, porque as noites são todas iguais...”.
Teve vontade de tocar o silêncio e de estar em uma casa vazia. Quis, por um momento, seguir um caminho a cada manhã, sem que ninguém soubesse seus passos. Apagar os seus erros e viver de sol. Entrou em um leve desespero e queria um cigarro, ou, ao menos, saber beber um copo atrás do outro. Quis ir ao inferno e ao céu.
“Meu caminho é cada manhã, não procure saber onde estou. Meu destino não é de ninguém, e eu não deixo os meus passos no chão... Se você não entende, não vê. Se não me vê não entende... Não procure saber onde estou se o meu jeito te surpreende...”.
A noite já havia ido embora e o dia já tinha ido pra lugar algum. Ela queria estar em um quarto vazio e não em um carro a caminho de casa.
Percebeu que a música fogo quase se encaixava com ela se ela tivesse um ‘você’.
Ela percebeu que não tinha e nem tem um ‘você’. Não tem sentido cantar as músicas porque todas elas são pra um ‘você’, e ela só tem um ‘eu’. Um vazio ‘eu’ sem um ‘você’. Não tem um ‘você’ pra dizer que é vital como o ar e muito menos pra não ser bom o suficiente pra ir ao céu. Não tem um ‘você’ pra compreender, não tem um ‘você’ pra envolver em seu jogo...
Não ouviu as duas primeiras músicas do Jota Quest...
“Essa não é mais uma carta de amor, são pensamentos soltos traduzidos em palavras, pra que você possa entender o que eu também não entendo. Amar não é ter que ter sempre certeza, é aceitar que ninguém e perfeito pra ninguém... É poder ser você mesmo e não precisar fingir, é tentar esquecer e não conseguir fugir...”.
Ela se deu conta de que não tinha um ‘você’ pra largar e muito menos um ‘alguém’ por quem ela pudesse fechar os olhos. Ela descobre desenho em nuvens sozinha e não pode perder o juízo. Ela tem?! Percebeu que as músicas não fazem sentido algum sem o ‘você’; que as coisas não são tão fáceis sem um ‘você’, que nada é tão bom e azul assim se não temos um ‘você’. Percebeu que não tem um ‘alguém’ pra encontrar e muito menos levar pra casa. Ela não dirige ainda. Vive esperando por dias melhores.
Dentre tantas, acho que só uma não precisava de um ‘você’ pra ter sentido...
“Eu quero ficar só, mas comigo só eu não consigo. Eu quero ficar junto, mas sozinho só não é possível...”.
“... Um amor que eu desconheço...”.

E é tão cedo pra dizer que já amei alguém. É tão cedo pra dizer que amo alguém. É tão cedo pra querer amar alguém... “Então seguirei meu coração até o fim pra saber se é amor...”.