quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Desencontro


O telefone tocou exatamente sete vezes antes que ela o tirasse do gancho e o levasse até sua orelha. Estava colocando sua calça jeans e quase derrubou o telefone quando ouviu a outra voz do outro lado da linha. Naquele instante sua boca ficou seca, a calça escorregou pelas pernas e as mãos tremiam como nunca havia acontecido antes. Teve que segurar o telefone com as duas mãos. Apenas pelo “Alô” ela sabia quem era, mas custava acreditar. Não podia ser, já tinha três meses e... era quase impossível.
Custou a conseguir chegar ao sofá, sentiu como se fosse desabar no choro, como se o seu corpo fosse desmontar caso desse um passo sequer. Estava pálida, com o coração na boca e borboletas no estômago. Sentiu ânsia, alegria e vontade de se esconder. Não conseguia emitir som algum, a voz do outro lado a deixava assustada e feliz. Deixava-a sem fala, sem reação, queria saber como estava, porque estava e como aconteceu, mas as palavras lhe fugiam e nada saia de sua boca. Pegou um pedaço qualquer de papel que havia sobre a estante e uma caneta. Suas mãos tremiam demais e a caneta quase foi parar no chão. Ouviu e anotou endereço e horário, em seguida apenas o vácuo do telefone desligado.
Permaneceu imóvel no sofá, estava em choque. Seu corpo não respondia aos comandos, era impossível levantar sem cair naquele momento. Sentiu frio e um arrepio na espinha. Passou os braços em volta da cintura e abraçou a si própria, como se isso fosse aliviar o que estava sentindo, porém, sabia que não era daquele abraço que precisava, era do abraço dele, pra saber que estava bem, pra saber que aquilo não era um... sonho? Será? Até ontem ele estava morto e agora... Balançou a cabeça e novamente olhou pro endereço no papel e para o telefone pendurado pelo fio. Olhou pela janela e viu as gotas de chuva que caiam lá fora. Suspirou. Finalmente levantou-se e vestiu sua calça.
Não faltava muito tempo até o horário combinado e sabia que teria que fazer o possível pra chegar na hora certa. Arrumou o cabelo e colocou uma blusa qualquer. Olhou pro relógio e já tinha chego à hora. Pegou as chaves do carro e saiu.
Pensou em um milhão de coisas e perguntas enquanto dirigia. Suas mãos tremiam e suavam no volante, seus olhos ficaram marejados por um instante e, exatamente quando abaixou pra enxugar suas lágrimas o semáforo ficou vermelho. Um grito foi solto no ar e em seguida a explosão. Suas perguntas se perderam em meio as ferragens do carro e, certamente, não chegariam até ele.



Música:

How long, how long will I slide
Separate my side, I don't
I don't believe it's bad
Slittin' my throat
It's all I ever...♪

Red Hot Chili Peppers - Otherside


Caso não haja entendimento:
Maçã Verde
Doce Novembro



=*

4 comentários:

Anônimo disse...

Já disse à você todas as sensações que esse texto me causou, né ?
Não canso de afirmar aqui, que você é perfeita com as palavras, e viso um futuro muito promissor pra você em relação à isso.
HUAUHAUHAUHAUHAUHA, Parei. xd

Te amo, B. Muito muito muito. hug/

Anônimo disse...

Esses seus textos são MUITO fodinhas de ler!
Não me cansa e é um tipo de literatura que atraí, saca? Sem contar que você se expressa muito bem. *-*

Um arraso, Susie.

Te amo e parabéns pelas histórias. Espero que esteja se encontrando. +_+

K.C disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Sei que posto tarde, ou tarde demais. Mas não poderia deixar de elogiá-la, sei que ainda não está perfeito. Mas sinto o que você ao ler esse texto. Criatividade, imaginação, ordem, sequência... Palavras são palavras e é bom ver que alguém ainda sabe usá-las.

Parabéns pelo texto, continue.

Ass. L.S.S