terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Finally?

Encostada na parede, com uma das pernas dobradas e um de seus pés apoiados na mesma; ela estava lá. Esperando. Paciente. Olhando. Procurando. Com medo. Sede. As mãos tremiam e os dedos já não estralavam mais. Sete e cinqüenta e dois bateu no relógio e um frio subiu pela espinha. Abriu a bolsa e olhou o presente dentro dela, com seu papel amassando todo, pela segunda vez. Embora fizesse sol e calor, suas mãos estavam frias e seus lábios partidos e vermelhos, cobertos por uma camada fina de brilho labial. As bochechas rosadas pelo sol do dia anterior, assim como seu decote marcado exatamente no corte da outra blusa que vestira.
Suas mãos procuraram pelo celular novamente no bolso de trás da calça enquanto seus olhos passeavam por entre as pessoas que andavam pelas ruas. Todos podiam sê-lo, assim como nenhum podia. A cada passo nos pés de alguém, era ele que ela via. De todos os perfumes que sentia em cada um, sabia que o melhor seria o dele, mesmo que nunca o tivesse sentido. Seus olhos passaram pelo celular que marcava sete e cinqüenta e oito. Frio na barriga dessa vez.
Os olhos saíram das ruas e puseram-se em seus pés. Na verdade, no nada, mas na direção deles. Imaginou-o ali junto dela, chegando ao pé de seu ouvido e sussurrando bem baixo algo que ela provavelmente não entenderia por causa do nervosismo que a tomaria. Seus olhos encheram-se de lágrimas e um sorriso brotou em seu rosto. Finalmente, pensava ela.
Esperou. Observou. Olhou. Paciente. Procurou.
Alguns passavam pela porta no sentido de entrada ou de saída, e todos a olhavam como quem tinha curiosidade. Quase chegava a ouvi-los perguntando e responderia com um sorriso no rosto, se fosse o caso. Mais uma vez seus dedos entrelaçaram-se, porém, dessa vez, eles estralaram; e ela suspirou.
Novamente esperou. Diferentemente do relógio, que parecia apressar cada vez mais os seus ponteiros, e os minutos pareciam milésimos de segundos. Oito e trinta e cinco. Os lábios e a boca ficaram secos. Os olhos desatentos e já não mais procurando. Dentre todos, nenhum podia e ninguém foi. Nem ao menos ao longe seus olhos o alcançaram e recusaram-se a deixar que as lágrimas se fizessem presentes. Caminhou lentamente na esperança de que seguraria o tempo assim. Procurou novamente. Busca perdida. Em nenhum rosto ele se achou. Nenhum dos lábios eram os seus. Os passos eram de outros pés e os perfumes eram de outros frascos.
Viu novamente o presente voltando pra casa com o papel amassado. Viu-se novamente indo embora sem o seu finalmente. E gritou. Porém ninguém pôde ouvi-la!

2 comentários:

Donα Morαngo* disse...

O bom é saber que você vai tentar quantas vezes lhe permitirem. E melhor ainda é saber que a vez em que dará certo está próxima.

E eu sempre estarei aqui, você sabe disso. ♥

Michele Alves disse...

(...) E mesmo que outras pessoas pudessem ouví-la, era ele a pessoa que ela queria alí. De alguma forma a confortando, de alguma forma apenas dizendo que ele estaria sempre alí. Mesmo que, no fundo, não fosse totalmente verdade.

Me ví nesse teu texto. Lindo demais, metada. ♥