domingo, 11 de abril de 2010

Be somebody

Como um gato perdido em meio ao trânsito caótico, ela andava nas ruas. Olhava as pessoas com a curiosidade de um bebê que acaba de descobrir uma cor nova, e com o medo de uma criança ao ver uma cinta. Entre os semáforos e as esquinas, seus pés descalços pisavam o solo quente, “Onde estou? Onde estou?”, martelava a pergunta em seu pensamento, juntamente com suas mãos, que faziam questão de baterem em sua cabeça, como se fossem, assim, trazer algum tipo de lembrança de volta. Suas lágrimas haviam acabado de tanto chorar, há dias seguidos. Sem dormir, no frio e na escuridão solitária da noite, e sem conseguir se manter completamente lúcida na claridade e movimento do dia.
Seus trajes sujos tinham contraste com a pele branca, por mais suja que essa parecesse. As pessoas a olhavam como se olha um animal deitado na rua, com desprezo. Algumas a olhavam curiosos, e alguns até a cumprimentam, mas os rostos não se faziam conhecidos.
- Onde estou? – Perguntava ela com tom de desespero às pessoas que na rua andavam. Tão sozinha, tão vazia. As lembranças lhe foram tiradas, e ela nem ao menos sabia o motivo. Ouvia sons conhecidos, que não conhecia. Vozes que acabara de ouvir, vozes sem rosto, vozes sem voz. Perfumes e aromas que estavam ali, mas não os conseguia identificar em meio a mente vazia. O desespero daquilo que lhe assombrava e estampava seu rosto. Aconteceu, mas nunca aconteceu antes.
Talvez fosse tudo um sonho, e era isso que esperava: acordar. Mas nem ao menos sabia como era dormir, e sonhar. Há dias não dormia, e de tanto roncar, fome seu estômago já não sentia. Perdida em perguntas, em palavras que ela sabia que existiam, mas nunca foram ditas. E aqueles olhares que a julgavam...
Correu.
Correu pra longe, correu pra lugar nenhum. Correu pela ponte, pela esquina. Derrubou algumas pessoas, até mesmo uma criança. “Desculpa”, saiu automaticamente de sua boca, mas nem ao menos sabia se conhecia essa palavra. Então continuou correndo, até seu coração saltar de seu peito e suas pernas quase desencaixarem de seu corpo.
Raiva.
Ódio.
Em qualquer lugar, num lugar qualquer, que estava lá, mas nunca esteve, ela entrou. Prateleiras, ela sabia o que eram, pronunciou em voz alta. A lembrança quis vir, mas foi embora antes de chegar. Então suas mãos entraram em ação, expressando o ódio que sentia. Quebrando o que havia em volta. E os olhos que antes a julgavam, agora a condenavam. “Louca!”, exclamavam. Condenavam. Apontavam. E ela continuava a derrubar as coisas, quebrar, jogar, como um animal furioso. Urrando as palavras que saíam em forma de grito: “QUEM SOU EU?”, diversas vezes as mesmas palavras, e gritos em seguida. Aconteceu, mas nunca aconteceu. Então o choro veio novamente, e o ódio se transformou em dor quando encolheu o próprio corpo, tentando se lembrar. Mas a dor foi embora quando aqueles braços a envolveram. “Vai ficar tudo bem”, aquela voz ela conhecia. Reconhecia. Aquele rosto, aqueles olhos. E o amor lhe tomou. Não sabia da própria origem, mas a dele bem sabia. E o que sentia, sabia que era amor. O único que poderia salvá-la. E ela se deixou levar, agora como o gato acolhido num lar seguro. “Calma, eu estou aqui”, e seu corpo desmoronou de fraqueza nos braços daquele que ela reconhecia.


Nobody knows, nobody sees;
nobody but me... (♪)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Blue or red? Or purple? Or...

Como diria a velha e famosa "Lady Murphy": "nada é tão bom que não pode piorar". Bem, dela, eu tirei a minha "nada é tão ruim que não possa ter seu lado bom". Muitas das coisas que escolhemos pra nossa vida começam a ser feitas ou construidas com planos, e essas que planejamos, começamos sempre com vontade. Ou seja, no começo, tudo é muito bom. Visto de longe, as coisas sempre parecem menores, o que nos levam a achar que os problemas também são menores. Porém não levamos em consideração que estamos vendo de longe. De fora, tudo parece solucionável, fácil, chegamos até nos questionar coisas como "Como ele não consegue fazer isso?". E uma das minhas filosofias de vida é "Não julgue até trocar de lugar". Qualquer um pode resolver um problema quando não faz parte dele e, consequentemente, não o leva para o travesseiro antes de dormir, não passa noites em claro pensando em como resolvê-los, não sente aquele nó na boca do estômago ao pensar no tal problema durante o seu almoço, janta, café da manhã; isso, é claro, quando se atreve a comer, ou quando se tem fome pra mim. Quem vê de fora tem uma visão ampla e tempo suficiente para analisar os prós e contras; não precisa perder noites de sono por isso e nem se preocupar em como vai resolver. É apenas um problema de outra pessoa. Essa é a tênue diferença entre quem passa por um problema e quem o vê de fora.
Tudo parece simples, bonito, lidável (não sei se isso existe, derivado de lidar, é) quando olhamos à distância. O sol é do tamanho de uma bolinha de gude para nós e é agradável ter um dia ensolarado. Mas vá viver em Marte, onde o sol é um tantinho maior do que uma bolinha de gude, e me diga se é tão agradável assim ter um dia de sol. É, uma metáfora barata.
Baseado na minha experiência errante de vida, tenho pra mim que, em determinado momento, todo mundo vai querer voltar a olhar de longe, ser ignorante em relação a algo, não ter conhecimento do que certas coisas realmente significam, pois ninguém gosta, realmente, daquilo que dá real trabalho. É mais cômodo viver na fantasia de que tudo é tão simples quanto imaginamos. Bom, caro leitor, enrolei todo esse tempo para dizer: faculdade, terminantemente, não é aquilo que parece. O fato de ser a melhor época da sua vida, não faz dela algo simples. Muito pelo contrário, eu diria. Durante todo o ensino médio, você se perguntou "Pra quê eu vou usar isso na vida?", eu gostaria de saber, assim como gostaria que aquele fosse o único conteúdo em relação ao qual eu teria de fazer essa pergunta a mim mesma ou a algum colega de sala ao meu lado. Durante a faculdade, achamos a resposta para a primeira pergunta, mas como diria o comercial da Futura "Como você pode ver, o mundo não é movido de respostas", e quando se acha a resposta de uma pergunta, por trás delas vêm outras como "Porque essa escolha?", "Quando foi que decidi isso?", "Porque estou fazendo isso?", "O que eu estou fazendo aqui?", "Porque não estou viajando o mundo?", "Pra quê estudar?" (Ok, essa nos perguntamos a vida toda), ou se pergunta o porque de não estar fazendo outro curso, dentre tantas outras. Hoje, o que eu sei, é que faculdade não é o que parece. Não é tão simples quanto alguns fazem questão de mostrar, e nem tão complexo quanto outros pintam. Não é só festa como a maioria teima e tampouco você vai fazer tudo aquilo que nunca fez antes de entrar pra uma universidade. Algumas coisas mudam, algumas atitudes. As tribos são completamente diferentes daquelas que estamos acostumadas no colegial, algumas pessoas ainda serão muito mais cruéis ao te julgar por aquilo que aparenta, porém, a maioria, realmente não vai se importar. O primeiro dia parece um campo de batalha, e você espera por ataque de todos os lados, pois está lá no meio, vulnerável. Esquecendo-se de que todos já passaram por aquilo, e além de você, outras muitas pessoas também estão vulneráveis, ou seja, não está tão só assim.
Depois que o susto maior passa, chegamos a nos enganar, imaginando que não haverá mais pressão em relação a estudos. Afinal tudo o que estudamos na faculdade é relacionado aquilo que escolhemos. Cuidado! Não se deixe enganar por esse pensamento completamente mal formulado. A pressão vai ser maior do que aquela que sofríamos em relação a vestibular. Os dias passam rápidos, já escolhemos o que queremos pra vida toda, agora é hora de arrumar um emprego e, mesmo acabado de pular de seus 18 para os seus 19, já é tarde pra trocar de opinião. Uma vez a pedra lançada, não tem volta. Ainda mais no quesito "não decepcionar pais e afins".
Todas aquelas perguntas que surgem depois de achar a resposta da "Pra quê vou usar isso na vida?", não se tem resposta. Eu ainda não tenho, e nem ao menos sei se terei até o dia em que eu estiver na minha festa de formatura, mas sempre que algo parecer difícil, ou até mesmo impossível. Todas as vezes que eu pensar que o meu limite, com x tendendo ao infinito, é zero (piadinha interna de matemático), vou me lembrar do quão feliz eu fiquei quando, mesmo assustada, coloquei os pés na sala de aula pela primeira vez, e como fico fascinada a cada explicação esdrúxula que temos em sala de aula. Por mais impossível que pareça, eu não sei porque, ou até mesmo pra quê, só sei que eu quero.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Fighting and missing...

- ME DEIXA! – Gritei e sai da sala, entrando no quarto e batendo a porta com toda a força.
Ele ficou lá, com aquele olhar de quem tinha a razão e murmurou algo, mas eu fingi que não ouvi e me joguei na cama. O problema é que, entre nós, a maioria das vezes é ele quem tem a razão, e eu não suporto o fato de estar sempre errada. Mas isso é o meu orgulho falando mais alto. Bem que quando dizem “Mulheres...” seguido de um suspiro, daquela maneira que querem dizer “animais indomáveis e incompreensíveis”, estão certos. Apesar disso e de ele ter a razão, ele sabia que eu estava na TPM, eles sempre sabem, notava o cheiro de TPM uma semana antes dela chegar, e ainda assim procurava me provocar no pico da minha irritação, depois ria com aquele modo de desdém. Claro, ele sabia que eu chegaria mansa pedindo desculpas depois. E não demorou muito...
Virei-me na cama e olhei para trás, aparentemente estava tudo calmo, e só conseguia ouvir o som da TV. “Hunf, que durma com a TV essa noite...”, pensei comigo imediatamente. Se ele não estava me importando, porque eu estaria? O problema é que eu estava me importando, então liguei o som, para ver se conseguia deixá-lo enfezado. Ele nunca fica enfezado, eu me descabelo, grito, berro, bato o pé, gesticulo, e ele não move nem mesmo um fio de cabelo. Talvez por saber que eu sou louca.
Como ele não cederia, liguei Kings Of Leon, queria deixá-lo morrendo de vontade cantar comigo e não poder, e acertei em cheio. Ouvi o som da TV aumentar consideravelmente e então aumentei mais o som, cantando alucinadamente no quarto. Mas um silêncio se fez na sala, e quando mudou de uma música para outra, tomei a brecha pra pausar o som e ouvi a porta da sala batendo. “MEU DEUS! Ele me abandonou! Descobriu que sou louca de vez!”, pensei imediatamente, sentindo meu coração gelar e como se minhas pernas não pudessem agüentar meu corpo. Sai em disparada do quarto, e a maçaneta fez questão de emperrar bem naquela hora. Bati o dedo do pé na quina do sofá e tentei abrir a porta da sala que, obviamente, ele havia trancado pra dificultar que eu fosse atrás dele. E, bom, vocês sabe, bolsa de mulher é sempre o caos, mas nunca achei algo dentro da minha bolsa tão rápido como naquele dia. Abri a porta e sai correndo para o elevador, e ele já havia descido. Meus olhos se encheram de lágrimas na hora e eu apertei minhas mãos contra meu peito. Respirei fundo, tentando não entrar mais em pânico do que já estava e então ouvi uma risada atrás de mim. “Ele não...”, não tive tempo de concluir meu pensamento e o avistei ao lado da porta do apartamento. O olhei como quem queria fuzilá-lo e ao mesmo tempo com todo o amor do mundo. Dei alguns passos até ele, que permanecia rindo com aquele sorriso encantador, o qual foi a primeira coisa que reparei nele quando nos vimos pela primeira vez.
- Um dia desses você ainda me mata. – Eu disse tentando conter meu sorriso e ao mesmo tempo minhas lágrimas, sem dar tempo para que ele respondesse, joguei o corpo contra o dele e os braços ao redor de seu pescoço, beijando-o de maneira tão apaixonada quanto fazia sempre. Ele, por sua vez, retribuiu. Sabia que se não retribuísse eu o tentaria até o fazê-lo. Depois nos abraçamos e eu disse que o amava.
- E eu amo você, pequena. – Respondeu ele ainda com aquele sorriso de deboche no rosto, o mesmo da hora em que me viu quase morrer do coração em frente ao elevador.
- Desculpe a minha loucura, você sabe...
- Já me acostumei.
- E faz de propósito...
- Sim, isso você um dia se acostuma.
- Se eu me acostumar, perde a graça. – Respondi beijando-o novamente em seguida e fomos para dentro.
E a noite foi mais longa do que imaginamos, detalhes que não precisam ser mencionados, que eu apenas lembro como forma de tentar sentir menos falta dele, afinal meu travesseiro não tem braços para me amparar enquanto ele não está aqui.
Casais tem brigas, afinal, mas quando ficam distantes, dá um aperto, uma dor, e vem aquele arrependimento “Não deveria ter brigado com ele justamente hoje”, mas nunca sabemos quando acontecem imprevistos. E agora só me resta tentar afastar a saudade, terminar o último bombom da caixa e esperar enquanto ele não chega. Talvez seja hoje, ou amanhã, ou enquanto estou dormindo. No meio de um soluço, um piscar de olhos ou uma simples refeição; entre uma música e outra, um sorriso, uma lágrima, ou um grito. A única certeza é de que ele volta. Volta pra matar minha saudade e me deixar mais uma noite sem dormir. E não por insônia...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Revanche?

Mais uma noite e ela simplesmente não agüentaria. Tentara de tudo no último mês e nada surtiu efeito. Na verdade, efeito surtiu, mas não veio com o resultado esperado. E ela o odiava e o amava simultaneamente. Primeiro o odiava por resistir tanto e segundo o amava exatamente por resistir daquela forma. Apesar de todos os esforços, ela gostava do jogo que jogavam, da maneira desafiadora que ele a olhava, a provocava e quando ela começava a ceder e provocar, ele desconversava, provocava, desconversava de novo e só fazia sua vontade aumentar, firme e forte em sua promessa, em seu propósito. Torturando-a.
Naquela noite, porém, ela estava um tanto quanto decidida. Já havia algumas noites mal dormidas, em que seus braços eram afastados do peito dele e, enquanto ela se debatia na cama, ele ria e apenas observava. Depois dava-lhe um beijo e lhe desejava um boa noite debochado. Até chegou a tentar psicologia reversa, parando de provocá-lo, esquecendo-se de que quem tinha poder psicológico entre os dois era ele, e não ela. Idéia inválida. Desistiu.
Chegou da rua e deixou suas coisas de lado. Trocou de roupa e colocou o pijama. O olhou de cima a baixo na sala e não deu uma palavra sequer com ele, apenas o cumprimentou quando entrou. Sem beijo, sem abraço, sem nada. Foi até a cozinha e pegou um copo de água, voltando pra sala logo em seguida, onde ele permanecia sentado, assistindo à televisão. Apenas a olhou de canto e ela sorria maliciosamente, mas de uma maneira diferente, segurando o copo de água em uma das mãos, o observando sem desviar os olhos e, por vezes, tomava um gole de água. Intrigado, então, perguntou o seu tão famoso “O que foi?”, abrindo um sorriso pequeno no canto dos lábios e apertando os olhos, desconfiado do que poderia estar se passando naquela mente fértil que só ela tinha.
Ela abriu mais o sorriso, terminou de tomar a água que havia no copo e anunciou que a greve agora era dela, sentindo-se completamente vencedora, crendo piamente de que a vitória era dela e agora quem sofreria com isso seria ele ou que, ao menos, sua tortura acabaria. Ele, porém, com toda a sua ironia, revidou:
- Justamente agora que não estou mais em greve, tsc.
O sorriso desapareceu de seu rosto, dando lugar a uma expressão séria. Arqueou uma das sobrancelhas e abriu a boca como se fosse dizer algo, mas não o fez. Engoliu a seco, desencostou da parede e caminhou até a cozinha pisando firme no chão. Colocou o copo sobre a pia de uma maneira brusca, a ponto de fazer com que o som ecoasse por outros cômodos, enquanto ele ria baixo na sala da reação que ela havia tido. Saiu da cozinha da mesma maneira que entrou, apagando a luz. Passou pela sala e não desviou os olhos em direção ao sofá. Ele, por sua vez, conteve o sorriso enquanto ela passava e a seguiu com os olhos até ela entrar no quarto, voltando-se novamente para a televisão.
Alguns minutos depois ela estava de volta à sala. Inclinou-se sobre ele, entrando em frente à TV, tirou o controle de sua mão e desligou a mesma. Ele apenas a seguiu com os olhos e não retrucou ou se esquivou.
Aquela noite passaram no sofá.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Before dying.

Todos dizem que antes de morrer nossa vida toda passa diante dos olhos num piscar de olhos e refletimos sobre tudo o que aconteceu em poucos segundos, causando arrependimento e dor. Dizem também que as pessoas, ao se arrependerem, purificam-se, e por isso se santificam depois de mortas. Mas a única coisa na qual consigo pensar é no dedo dele no gatilho, meus olhos não desgrudam do cano da arma e nem ao menos chorar consigo. Estou completamente estagnada. Parada com uma arma apontada pra minha cabeça, bem entre os meus olhos. E todos os meus sentidos parecem mais aguçados, meu coração é como um tambor batendo dentro do peito e eu sinto ele palpitando em todo o meu corpo. Posso sentir até mesmo o sangue correndo pelas minhas veias. Sangue esse que não vai demorar a se derramar se ele puxar esse gatilho.
Não estou revendo toda a minha vida, ela é longa e eu não lembro de tudo o que fiz ou deixei de fazer. Fiz tanto e ao mesmo tempo tão pouco. Deixei de fazer, refiz, cometi erros antigos e novos erros. Pedi perdão e fui perdoada. Beijei, abracei, fui beijada e abraçada. Confundi nomes, idades, esqueci datas de aniversário e chorei nos meus aniversários. Fui criança, subi em árvore, tive medo de escuro e de altura. Medo do bicho-papão e da Cuca. Assisti à filmes de terror, comédias, romances e chorei com eles. Chorei muito, ri muito, trabalhei pouco, estudei menos ainda. Alcancei objetivos, mas não todos. Não penso que tenho muito ainda pra viver, talvez esse seja meu fim, e estou conformada com isso, com todos os sonhos que vão por água abaixo se o dedo dele apertar esse gatilho.
Pensei em coisas boas, mas e as coisas ruins? E a tristeza que causei? As pessoas que fiz chorar? Que magoei? Que fiz esquecer e abandonei? E todas as palavras de carinho que eu podia ter dado e não dei? Os abraços que deixei de entregar ou beijos que neguei? O que vai me fazer pura daqui pra frente? E se eu não me arrepender, será que vou pro céu mesmo assim? Será que existe realmente um céu destinado às boas pessoas? Mas o que são boas pessoas? Alguém soberbo que doa uma quantia em dinheiro todo mês pra alguma instituição pra mostrar-se melhor que os outros? Isso é ser bom? Se for, eu não sou boa. Não dividia meu dinheiro. Dar esmola na rua, conta? Se contar, então fiz coisas boas. Dar dinheiro é fazer algo bom? Se for, presidentes que distribuem bolsas “não-sei-o-quê” são santos, mesmo roubando milhões daqueles que não têm condições. Isso é tapar o sol com a peneira. Não há pessoas boas ou ruins, não há certo ou errado. Pessoas são medíocres, agem de acordo com a situação. Se tem de ser boa, será boa. Se tem de ser ruim, será ruim.
Bondade e maldade enlatada. Porque novelas dão ibope? Porque é bom ver a desgraça do próximo. É melhor ver a desgraça do próximo do que amar seu semelhante. É melhor comer a mulher do amigo do que não desejar a mulher do próximo. Somos gulosos, invejosos, preguiçosos, vaidosos. Vivemos irados com engarrafamentos e só não mandamos nossos patrões pra alguns lugares não favoráveis porque somos egoístas e orgulhosos demais pra perder aquilo que nos sustenta e admitir que, apesar de tudo, gostamos. Ou desgostamos. Muitas das coisas que fazemos ao longo da vida, gostamos? Ou fazemos porque a maioria faz? Ouvimos pra mostrar que não somos deslocados. Vestidos porque caiu bem no corpo do amigo. Elogiamos com a vontade de ser igual e com a veia da inveja pulsando para que a pessoa tropece na primeira pedra, só pra satisfazer o nosso desejo doentio de vê-la por baixo.
E qual é o desejo dele? Isso, pra ele, é me ver por baixo? Por que eu? O desejo dele é ver sangue? É levar aquilo que eu tenho de valioso? Minha vida é valiosa pra ele? Não me importo se ele puxar o gatilho. E não vou me arrepender pelas coisas que fiz, tudo foi meticulosamente programado e provavelmente, em outrora, eu já me arrependi. Eu nem ao menos sei se isso vai me salvar. Salvação... Não sei se acredito nela. Talvez o meu destino seja a reencarnação. Ter a chance de me redimir de tudo de errado que eu fiz nessa vida. Ou talvez a minha alma fique vagando por ai durante a eternidade. Posso também virar um anjo e dormir sobre as nuvens, soprar coisas boas na cabeça das pessoas. Posso virar uma diabinha também, e soprar no ouvido dele pra atirar em mim.
Só se passaram alguns segundos, meus olhos continuam fixos no cano da arma enquanto eu penso em milhões de coisas ao mesmo tempo. E é tudo tão confuso e claro. Certo e errado, bom e ruim. Tudo é nada, e nada me satisfaz. O tudo é confuso demais e eu me sinto aliviada, pois talvez eu não precise mais lutar pelas coisas que eu desejo. Ele começou a caminhar pra trás, levando minha carteira, relógio, bolsa e colar. É isso então? É assim que termina? Ele não vai me dar aquilo que eu tanto queria? Uma libertação talvez? Não. Ele simplesmente foi embora. Me deixou com as minhas perguntas, minhas antigas ambições, minha falta de vontade de levantar ou concluir tudo o que eu havia planejado para minha vida. Agora eu faço o quê? Levanto e sou hipócrita o suficiente pra viver alucinadamente e aproveitar ao máximo a minha vida? Eu só queria que ele tivesse puxado o gatilho e me libertasse de todas as minhas questões.
Volto, agora, a ser a pessoa ambiciosa de antes, machucando alguns, dando esmola para outros. Seria mais fácil não ter de fazer escolhas, porém a vida seria sem graça. Uma pena meu chocolate ter ficado dentro da bolsa.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

The right guy.

Sabe quando o sol bate no rosto daquele cara que se destaca no meio da multidão e você pensa "é ele"? Porque os olhos dele reluzem mais do que qualquer letreiro que esteja ao redor, os cabelos dele parece que brilham e esvoaçam com o vento. A camisa que ele veste parece que foi feita na medida, o nariz dele desenhado e os lábios quase que irresistíveis. Então você tem certeza de que é ele, de que poderia passar o resto da vida com ele. Tem certeza de que é amor à primeira vista e de que ele é o cara perfeito. Quando, na verdade, está absolutamente enganada. O cara perfeito é aquele que estava ao lado, que pode não ter os cabelos tão brilhantes e os olhos tão verdes e reluzentes; é aquele que usa óculos, tem os cabelos meio encaracolados e pretos, é alto, magro e tem o sorriso mais encantador que já viu. É aquele que vai te fazer sentir feliz com um simples sms no meio da madrugada, que vai segurar sua mão e vai te dizer pra não ter medo antes de dormir ou quando a luz acabar. Ele vai saber a hora certa de dizer que te ama, vai amá-la pelo que é e não pela sua aparência. É aquele que vai pensar em você antes de dormir e na hora que acordar. Que vai pensar em você ao longo do dia e sorrir bobo ao receber um torpedo quando ele estiver dentro do ônibus. O cara certo, você não vai achar só porque o sol bateu nele no meio da multidão e ele olhou pra você com os olhos cerrados, como se quisesse vê-la melhor; sendo que isso era só pra que a luz não doesse tanto nos olhos dele. Quando o cara certo chegar, você não vai perceber, porque ele vai fazer de tudo pra esconder, chegando até a ser um pouco frio e haver algumas discussões entre vocês, pois talvez ele tenha medo de dizer tudo o que sente ou tenha que pensar melhor se realmente é pra sempre por medo de te machucar, porque você vai ser a garota certa pra ele. O cara certo vai te conquistar aos poucos, sem que perceba. E num ataque de ciúmes vai se declarar, te fazendo ficar completamente caída de amores. Mesmo que ele tenha uma namorada e você esteja com aquele cara que você achava que era o certo. E então você vai perceber que aquela "queda" que tinha por ele antes era, na verdade, um sinal de que ele sim era o cara certo, mas que você custou a perceber. Vai realizar de que o outro não passa de alguém extremamente egocêntrico e indiferente a tudo aquilo que você sente. E o melhor: vai descobrir que é tão apaixonada pelo cara realmente certo quanto imaginava, mesmo que seja tomada pelo medo de deixar aquele que achou no meio da rua.
E então ele vai fazer todo o medo ir embora toda vez que dizer que te ama, vai fazer seu coração disparar todas as vezes que ele disser, mesmo que sejam seguidas. As borboletas vão aparecer no estômago quando se virem e as mãos vão suar, mesmo depois de dez meses juntos. Você ainda vai se pegar sorrindo ao ler os torpedos que não apagou do celular mesmo depois de dez meses; vai sonhar ainda com o primeiro sorriso trocado. Vai se sentir mais perto dele quando jogarem um simples jogo juntos, por mais próximos que já estejam, o simples fato de estarem fazendo juntos, os juntará mais. Vai ver jogos de futebol por ele e gritar gol no meio da noite, mesmo que ele não esteja por perto. Vai querer vê-lo dormir e se afogar no travesseiro, pois ele dorme com a cabeça enfiada nele. Vai chorar de felicidade quando perceber que quer ele por perto pra sempre, que aquele poema que em outrora não fazia sentido, hoje faz menos ainda, porque o amor que sente é maior do que foi colocado em palavras com versos decassílabos. Esperará pacientemente pela hora em que ele chegar e sentirá saudades quando não o vir por um dia. Vai chorar de saudades, chorar de alegria, chorar ao dizer que o ama, chorar ao pensar em vocês dois juntos; talvez fique treinando expressões faciais no espelho quando tiver de falar algo pra ele, e então cairá na risada, porque não vai usar nenhuma delas. A única coisa que vai usar é seu melhor sorriso pra ele, porque ele merece todos os melhores sorrisos, todos os melhores beijos e os mais apaixonados, os abraços mais apertados e as lágrimas mais sinceras. Os "eu amo você" mais bem ditos ou mesmo sussurrados ao pé do ouvido. Você vai sentir que o amor, tanto da sua quanto da parte dele, só cresce a cada dia e ele vai ser perfeito só no "eu te amo", porque é isso que vai bastar. É só isso que vai bastar pra sempre, e sempre mais. E é ele quem você vai querer ao seu lado pelo resto dos seus dias. Esse é o cara certo.



You're my right guy, G.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Do not disturb...

Esquisita sempre foi o primeiro adjetivo atribuído a mim. Depois melhoravam. Alguns me achavam bonitinha. Às vezes ouvia algum maluca. Anti-social. Nerd. Mas o que eu mais ouvia, eram risadas. Risadas daqueles pobres coitados que hoje estão abaixo dos meus pés. Literalmente.
O primeiro foi Joey. Ele era o mais insuportável e idiota de todos. Uma daquelas pessoas que não merecem pisar na terra. Ele merecia virar grama, e eu tenho certeza de que fiz um favor a sociedade quando o matei. Não o via há anos, desde o colégio. Desde aquela última vez que ele apontou o dedo na minha cara e riu de mim. Não preciso entrar em detalhes sobre o porquê dele ter rido. Era um motivo babaca. Babaca como ele. E a última vez que o vi, o idiota me passou uma cantada barata. Obviamente ele não sabia quem era eu e o quanto esperei pra encontrá-lo. Eu não tinha planejado, na verdade. Nunca tinha pensado que faria tal coisa, mas sempre fui tão vazia. E quando eu ouvi as palavras saindo de sua boca, daquele jeito que só ele saberia falar e com a língua presa, não tive dúvidas de quem era. Sabe, as pessoas evoluem. Pessoas mudam. Eu mudei. Não nego que era um tanto quanto estranha no colégio, mas desde quando isso é motivo para que babacas como Joey simplesmente se aproveitem disso para fazer graça sobre o meu caráter? Foi engraçado, porque quando eu perguntei se ele tinha um último desejo, ele riu. Achou que era uma brincadeira. Ao menos ele morreu sorrindo, não?
Você deve estar se perguntando como o matei. Na verdade, foi algo demorado, e creio que ele tenha morrido de dor, ou de tanto sangrar. Pois quando eu achei que tinha acabado e ia fazer o meu grande final, ele já não respirava mais. Fraco, morreu durante a tortura. Só me arrependo de tê-lo amordaçado. Eu devia ter ouvido os gritos de dor antes de acabar com ele, ou a cada corte.
Mas, enfim... Quem veio depois foi Cassey. Sim, isso é irônico, o nome de ambos terminam com as mesmas letras. Eles eram namorados no colégio, e não teve um garoto com quem ela não foi pra cama. E não pense você que isso é ciúmes ou inveja, isso é simplesmente nojo. Ela me dava asco, me fazia querer vomitar. O tipo de garota que não prestava nem pra ter peitos ao invés de cérebro. Essa eu fiz questão de ir atrás. Não quis esperar que o destino me levasse até ela. Embora não tivesse quase seios, foram a primeira coisa que tirei dela. Me arrepio enquanto conto pra você, porque a vadia achou que eu tinha algum fetiche estranho. Ela fazia programas com homens, mulheres, só casais... Achou que eu era só mais uma cliente. De que vale ser bonita e não ter um cérebro? É dessa maneira que uma mulher assim acaba: como uma prostituta morta de 29 anos.
Não, errou. Eu sou um ano mais nova que ela.
Depois vieram mais alguns... Mathew, Audrey e Lucas. Não tenho arrependimento por nada, por nem uma gota de sangue sequer. Nenhum deles pensou duas vezes antes de nada do que falaram.
Façamos um acordo. Um quarto escuro. Uma cadeira. Sem janelas. Só uma porta. Uma porta sempre fechada. Está com fome. Ouve ruídos mas não tem idéia de onde vêm. Os olhos não notam um sinal de luz. A porta se abre. A luz entra. Uma corrente de ar. E se fecha. Um corpo. À sua direita ou à sua esquerda. Não olhe pros lados. Mais um ruído. Um perfume bom que chega às suas narinas. Um suspiro. E então uma faca passa rapidamente pelo pescoço. Esse é seu fim.
Não diga uma palavra!

sábado, 17 de janeiro de 2009

I dare you!

Ela precisou de apenas um deboche pra virar-se em direção a ele e arquear aquela sobrancelha odiosa que sabia que ele não gostava. O sorriso de deboche sumiu de seu rosto no instante em que ele a viu erguida, aquela única sobrancelha, e soube que pagaria por aquilo, soube que ela faria o impossível pra provar que ele estava errado em relação ao que ele havia dito e isso, na verdade, não o fez recuar, só fez aumentar o sorriso em seu rosto, mas agora numa forma de desafio. Ele soube de tudo isso nos mesmos segundos em que ela soube que ele a infernizaria pra sempre caso ela não aceitasse o desafio e provasse que ele estava errado. Engoliu seco e quase deixou transparecer a sua insegurança quanto ao que faria.
Então ela ameaçou pra disfarçar. Aceitando o desafio ela disse que ele não perdia por esperar. Novamente o sorriso odioso de deboche apareceu em seu rosto, como se ela não fosse capaz de fazê-lo. Não sabia se o odiava por isso ou se a fazia amá-lo mais. Deu de ombros e o deixou com o sarcasmo inflado dele sozinho, enquanto ela caminhava para uma longa noite de sono na cama. Ou não.
As palavras dele em tom de desafio, que foram poucas, cinco ou seis; ficaram em sua mente, martelando o tempo todo, desde a hora em que ele disse, até a hora de escovar os dentes pra cair na cama e dormir. Faziam com que ela tivesse de espremer seu cérebro, o qual ele duvidava que ela tivesse, até ter uma idéia brilhante. Não dividiu o banheiro com ele na hora de escovar os dentes como todas as noites, fez questão de sair antes e deixá-lo com a pulga atrás da orelha ao dizer que já sabia o que faria, quando, na verdade, não tinha idéia. Mas ela sabia que isso lhe causaria certa preocupação, pois se ela conseguisse, ele teria de se desdobrar e espremer o cérebro do qual ele tanto se gabava em ter.
Mais um pouco de enrolação e finalmente dormir. Ou não.
Ela não se virava muito na cama, pois sabia que se o acordasse ele faria alguma pergunta a respeito, sabia que ele saberia que ela estava preocupada em não conseguir fazer o que ele havia destinado que fizesse. Levantou-se, enfim, não agüentando o calor infernal. Olhou-o por um tempo estirado sobre a cama e pensou por um instante. Um sorriso nasceu em seu rosto e correu na ponta dos pés até a sala. Trouxe dela o notebook que estava sobre a mesinha de centro e sentou-se bem devagar na cama, tentando ao máximo não fazer barulho ou movimento suficiente para que ele acordasse. Embora seus esforços tenham quase ido por água abaixo quando o windows iniciou e tocou a musiquinha irritante. Ele se mexeu sobre a cama, enfiando a cabeça no travesseiro e ela riu baixo, pois sabia que a qualquer momento ele se afogaria.
Abriu o Word. Fonte Arial, tamanho 10. Às duas e quatro da manhã teria terminado de escrever se o programa não tivesse dado erro. Queria berrar. Entrou em desespero quando viu que o arquivo não havia sido salvo. Como provaria que havia escrito se não tivesse o texto em mãos? Por alguma razão inexplicável, foi fuçar na lixeira e, por outra razão inexplicável, o arquivo estava nela. Respirou aliviada ao ver que não tinha perdido seu tão precioso trabalho e sorriu novamente, dando mais uma olhadela para o lado. Salvou o arquivo e desligou o notebook, deitando-se com a barriga pra baixo e um sorriso no rosto. Espero que ele tenha uma idéia tão brilhante quanto a dela. Dormiu, finalmente.