terça-feira, 9 de outubro de 2007

Maçã verde.


Era uma noite fria. Podia sentir sensações confusas misturadas com o vento forte que me fazia pender, por vezes, para frente e outras para trás. Ventava tanto que em alguns momentos cheguei a pensar que cairia antes da hora. Tive medo. Medo de cair por causa do vento enfurecido que cantava quebrando o silêncio ensurdecedor e o barulho da cidade; quebrando o barulho do trânsito e fazendo com que as árvores dançassem. Enquanto eu subia senti frio na barriga, como se fossem borboletas no estômago; como se meu coração estivesse sendo digerido e, a qualquer momento, eu seria tomado por uma súbita ânsia que me faria vomitá-lo, e esse talvez caísse na cabeça de algum infeliz que passava lá embaixo, que olhava para o alto da Torre Eiffel e se perguntava se não devia fazer o mesmo que eu, mas sem saber que eu estava lá.
Cheguei ao topo. Meu coração ainda se fazia presente em meu estômago por entre as borboletas que voavam dentro dele, alvoroçadas. Por um bom tempo fiquei imóvel, observando as luzes da cidade acesas, sentia o vento que soprava forte esbofeteando minha face, me culpando pelo que eu havia feito, pelo que eu não tinha feito e, principalmente pelo que eu ia fazer. Cheguei a olhar para trás; para o elevador. Vacilei, pensei em desistir, mas para quê? Eu já estava lá, N'est pas?! Tive um pequeno trabalho para conseguir chegar ao topo, esperei alguns minutos no elevador, se eu descesse seria um fraco. Voltei a observar a cidade e, involuntariamente, olhei para o céu. Vi as estrelas; elas estavam bem mais reluzentes que das outras vezes que eu parei para observá-las. Dei-me conta de que há tempos não parava para vê-las. Pude sentir meus olhos lacrimejarem, mas logo o vento os secou. Fiquei paralisado olhando-as mais uns minutos e, nessa mesma posição, forcei o corpo para frente, o que não foi muito difícil de fazer, pois o vendo me ajudava.
Flutuei... Por alguns instantes pensei que pudesse voar e abri os braços. Caindo, caindo... Caindo. Sensações estranhas, as borboletas saíram pela minha boca, juntamente com meu coração; os vomitei. A velocidade aumentava, minhas roupas e cabelos esvoaçavam; senti-me leve. Lembrei-me de coisas que havia feito e algumas que, ridiculamente, deixei de fazer; das garotas que amei e que me amaram... Lembrei-me dela. Onde ela estaria? Um dia prometeu que não permitiria isso e... Cadê? Lembrei-me dos aniversários que passei sem ninguém ao meu lado, dos muitos que viriam, e pude desejar um feliz aniversário a mim mesmo enquanto caía. Fazia 21 anos. Parabéns para você, Henrique... Num estalo me dei conta do que estava fazendo e, já quase me estraçalhando no chão, pensei: "Eu nunca comi uma maçã verde"... Meu último suspiro!



Música:

Chatterton, suicidou.
Kurt Cobain, suicidou.
Getúlio Vargas, suicidou.
Nietzsche, enloqueceu.
E eu, não vou nada bem.
Chatterton, suicidou.
Cléopatra, suicidou.
Isocrates, suicidou.
Goya, enloqueceu.
E eu, não vou nada nada bem...♪


Chatterton - Ana Carolina e Seu Jorge.

- Palavra de hoje:
Maçã: sf 1 Bot Fruto de macieira. 2 Qualquer objeto que tenha aproximadamente o feitio de maçã. 3 Maçaneta de sela.


Deram um tiro no pé... ♪
;*

2 comentários:

Donα Morαngo* disse...

"...
Enquanto eu lia senti frio na barriga, como se fossem borboletas no estômago; como se meu coração estivesse sendo digerido e, a qualquer momento..."

Praticamente sem palavras ao mesmo tempo que me passa um milhão de coisas pra escrever sobre o que foi escrito... T_T

Eu quis vomitar as borboletas junto com ele, e amanhã mesmo compro uma maça verde! .-.

Quase fiquei roxa de prender a respiração com medo do q estaria por vir... e veio.

Triste, porém bonito. Oo

Te amo, minha MRP com cromossomo X!
;*

Anônimo disse...

Na sua cidade não tem feira, Bianca Rochachani? óò

Hahahahaha

(L)